quinta-feira, 3 de maio de 2012

Eu grito.

O balcão da padaria emudeceu.

A famosa imagem de 'O Grito' na tela roubava toda a vontade de fala. Somado ao silêncio, o noticiário reportava que a pintura do norueguês Edvard Munch fora vendida pelo em leilão recorde no valor de U$ 119,9 Milhões. O patamar anterior pertencia a Picasso.

Controlávamos a respiração para evitar ruídos. Mudos pelo assombro do montante pago pela obra. Por segundos olhando para a tela, me sentia confortável.

Um ser desfigurado gritando, visceralmente, de uma forma que me despertava solidariedade e inveja, jamais poderia repetí-lo (o grito) em sociedade, por mais que por vezes sinta enorme vontade. 

Quanta loucura há na arte.

Em lances silenciosos, o comprador anônimo conseguiu arrematar a obra em um evento com pompa e civilidade insanas. Me perguntava o que era mais louco: Ficar erguendo placas com valores para ter para si o grito mais representativo do desespero humano ou reconhecer-se no grito alheio, a ponto de se sentir saciado com um berro mudo.

Não cheguei a conclusões, elas são para os loucos. As dúvidas são os motores necessários. Não sei se a tela ficará melhor na sala de estar ou na galeria particular de obras de arte.




3 comentários:

  1. Adorei o post, Vicente! Questionei-me o que haveria por trás do interesse em comprar uma tela por essa quantia absurda: uma manifestação de megalomania? Não havia nada mais útil? Ah! O amor pela arte! Mas este último está descartado... o quadro ficaria melhor na parede em frente a cama... Deve haver uma explicação freudiana para isso...Beijos, Luciana Freitas

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  2. Vlw Lu. Na parede em cima da cama eu ia ter pesadelos com essa tela. Rsrs, mas enfim. é um grito de desespero, Acho que agora o dono da tela grita: To endividadoooo! rsrs. Abraçao com saudades.

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  3. Realmente... Se eu tivesse alguma obra de arte como esta, vendê-la-ia logo e ficava rico. Infelizmente gosto mais do dinheiro do que de um quadro, seja lá qual ele for.

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